Vou postar um poema que li e me identifiquei muito. É de Adélia Prado, mineira, dona de casa, professora, habilidosissíma na escrita. O poema a seguir, dialoga com o Poema de sete faces, de Drummond, também muito querido por mim.
Algo mais sobre Adélia, http://www.releituras.com/aprado_bio.asp
Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
(dor não é amargura)
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai se coxo na vida, é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
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