sábado, 16 de maio de 2009

Com licença poética!

Ilustração Jarbas Azevedo



Vou postar um poema que li e me identifiquei muito. É de Adélia Prado, mineira, dona de casa, professora, habilidosissíma na escrita. O poema a seguir, dialoga com o Poema de sete faces, de Drummond, também muito querido por mim.


Algo mais sobre Adélia, http://www.releituras.com/aprado_bio.asp





Com licença poética




Quando nasci um anjo esbelto,


desses que tocam trombeta, anunciou:


vai carregar bandeira.


Cargo muito pesado pra mulher,


esta espécie ainda envergonhada.


Aceito os subterfúgios que me cabem,


sem precisar mentir.


Não sou tão feia que não possa casar,


acho o Rio de Janeiro uma beleza e


ora sim, ora não, creio em parto sem dor.


Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.


Inauguro linhagens, fundo reinos


(dor não é amargura)


Minha tristeza não tem pedigree,


já a minha vontade de alegria,


sua raiz vai ao meu mil avô.


Vai se coxo na vida, é maldição pra homem.


Mulher é desdobrável. Eu sou.

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